O ORGANISMO DA GESTANTE NECESSITA DE MAIS NUTRIENTES, EM ESPECIAL DO FERRO. A DEMANDA AUMENTA À MEDIDA QUE O BEBÊ CRESCE, E MUITAS VEZES É NECESSÁRIO FAZER SUPLEMENTAÇÃO PARA QUE ELA NÃO DESENVOLVA ANEMIA
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, em países em desenvolvimento, cerca de 50% das mulheres grávidas apresentem anemia. Não há dados nacionais, mas as estimativas apontam que de 30% a 40% das gestantes brasileiras são acometidas pela anemia ferropriva – a mais prevalente –, que é causada pela deficiência de ferro. A anemia gestacional surge devido à maior necessidade orgânica desse nutriente durante a gravidez, justificada pelo crescimento da placenta e do bebê e pela expansão do volume plasmático do sangue.
TIPOS DE ANEMIA GESTACIONAL
Mas para tranquilizar as gestantes a maior necessidade de ferro na gestação é considerada normal. Na gravidez, os estoques de ferro no organismo diminuem. Consequentemente, à medida que a demanda aumenta, a gestante pode não ter a reserva exigida pelo organismo e acaba por ficar deficitária dele, desenvolvendo a anemia, com alterações na dosagem de hemoglobina. Nesse momento podem surgir os primeiros sintomas: cansaço, queda de cabelo, enfraquecimento das unhas, falta de disposição e alteração de humor, entre outros. Além da anemia ferropriva, existem ainda as causadas por deficiência de vitamina B12 e de ácido fólico (folato) – ambas pertencentes ao grupo do complexo B – e as de origem imunológica e genética, como a talassemia (doença hereditária) e a anemia falciforme. A mulher já nasce com esse problema, portanto conhece esse diagnóstico antes da gestação e dificilmente engravida sem ter informação prévia de suas condições hereditárias. As causas de anemia são divididas em fisiológicas – menstruação, gravidez e lactação; patológicas, que abrangem sangramentos excessivos, parasitoses (ancilostomose) – que podem levar a uma perda de sangue intestinal –, retocolite ulcerativa e doação crônica de sangue; e nutricionais, que têm a anemia ferropriva como sua principal causa. As dietas restritivas com baixa disponibilidade de ferro, as doenças inflamatórias intestinais, as cirurgias bariátricas e as de ressecção intestinal – quando é removido parte do intestino delgado, do intestino grosso ou de ambos –, que dificultam a absorção devida do nutriente, são também causadoras das anemias nutricionais “Essa é a nossa maior preocupação, e também a mais prevalente”, diz a vice-presidente da Comissão Nacional Especializada em Pré-Natal da Febrasgo. O uso prolongado de certos medicamentos – aspirina, antiácido, anti-inflamatório – também pode levar a alguma carência de ferro.
RISCOS E TRATAMENTOS
Mulheres com anemia adquirida na gestação podem sofrer muito com suas consequências físicas e emocionais. As gestantes ficam mais suscetíveis a mudanças de humor, instabilidades afetivas e depressão no pós-parto, mas estão sujeitas também a parto prematuro, abortamento espontâneo, pré-eclâmpsia e insuficiência cardíaca congestiva (ICC), que causa a perda da capacidade do coração de bombear sangue corretamente, o que diminui o transporte de oxigênio para os tecidos. Se há sinais de anemia durante a gravidez, é essencial que a mulher inicie o tratamento com suplementos ferrosos indicados durante o pré-natal – e não o abandone. A orientação sobre a continuidade do tratamento é bastante importante, já que é preciso contar também com o sangramento normal que ocorre por ocasião do parto, independentemente da via, normal ou cesárea. Essa perda de sangue pode provocar ou agravar uma anemia já instalada, mas, se a paciente tiver reservas adequadas de ferro, as chances de ter o nutriente nas quantidades necessárias são certas. Muitas mulheres precisam continuar o tratamento depois do parto. A tendência é a mãe focar no bebê e esquecer-se de suas demandas pessoais, e a anemia no puerpério pode comprometer a produção do leite materno, gerando a síndrome do leite insuficiente, e ainda dificultar a cicatrização. Os bebês também sofrem com a anemia gestacional. O maior risco é o desenvolvimento lento do feto, levando à restrição de seu crescimento, o que causa, por vezes, o nascimento com baixo peso. Para controlar a anemia gestacional, a alimentação saudável é fundamental. “Nem sempre a população tem acesso a esse tipo de dieta, e, do ponto de vista nutricional, a mulher pode não conseguir ingerir o ferro necessário. Mas é importante, se possível, que ela consuma carnes vermelhas – a maior fonte desse nutriente – e vegetais verde-escuros, como espinafre, couve, agrião e brócolis.
Fonte: Revista Ela nº 14 - maio/2021
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