Em 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou uma estratégia visando à eliminação do câncer de colo de útero, classificado como um problema de saúde pública em todo o mundo. Essa estratégia sinaliza os objetivos a serem alcançados até 2030, que são:
90% de meninas vacinadas com a vacina para papilomavírus humano (HPV) aos 15 anos de idade;
70% das mulheres rastreadas com um teste de alta qualidade aos 35 anos e novamente aos 45 anos de idade;
90% das mulheres diagnosticadas com câncer de colo de útero recebendo tratamento (90% das mulheres com neoplasias precursoras tratadas e 90% com câncer invasor sob tratamento).
Em reunião entre os dias 4 e 7 de abril de 2022, o grupo conselheiro de estratégias em imunização (SAGE) da OMS comparou as evidências da eficácia da dose única das vacinas HPV com as evidências da eficácia de duas ou três doses nos esquemas recomendados. Com a revisão científica realizada pelo SAGE, concluiu-se que uma dose de uma das vacinas disponíveis no mundo pode oferecer proteção significativa e não desprezível contra o vírus que causa o câncer de colo de útero (HPV), em algumas situações, podendo ser equivalente às duas doses que são recomendadas atualmente para adolescentes. Essas observações possibilitariam também que o esquema de duas doses fosse ampliado para idades acima de 14 anos. Adotar a dose única como estratégia poderá ser um importante passo para aumentar as coberturas e proporcionar a proteção para um número maior de meninas que não têm acesso à imunização contra o HPV.
O câncer de colo uterino é uma doença silenciosa que apresenta alta mortalidade e é prevenível pela imunização, assim, a possibilidade do uso da vacina em dose única tem o propósito de aumentar as coberturas vacinais, principalmente nos países de baixa renda.
Mais de 95% dos casos de câncer de colo de útero, o quarto tipo de câncer mais frequente entre as mulheres em todo o mundo, são causados por HPV, de transmissão predominantemente sexual. Entre esses casos, 90% ocorrem em mulheres vivendo em países de média e baixa renda.
Essas recomendações do SAGE permitirão que mais adolescentes e mulheres adultas sejam vacinadas, o que, consequentemente, auxiliará na prevenção do câncer de colo uterino e suas consequências.
Recomendações atuais do SAGE relativamente à vacina HPV:
Dose única ou duas doses para meninas de 9 a 14 anos de idade;
Dose única ou duas doses para mulheres jovens de 15 a 20 anos de idade;
Duas doses com seis meses de intervalo para mulheres maiores de 21 anos de idade.
Os imunocomprometidos, incluindo aqueles vivendo com HIV/Aids, devem receber o esquema de três doses ou, quando isso não for possível, pelo menos duas doses. Não existem evidências em relação à eficácia da dose única nessa população.
A dose única é mais custo-efetiva e mais fácil de administrar e facilita a implementação de campanhas com catch-up em todas as idades. Também reduz os desafios de registros para a chamada para uma segunda dose e permite o redirecionamento de recursos para outros programas de saúde também prioritários, como o da malária, o do tracoma, entre outros.
Posicionamento da Febrasgo
A CNE em Vacinas da Febrasgo reuniu-se no dia 11 de maio de 2022 e está atenta a essas novas recomendações da OMS, sempre discutindo os dados publicados e a aplicabilidade no nosso país, e recomenda: “Toda vacina contra HPV aplicada tem fundamental importância, principalmente se aplicada antes dos 15 anos de idade, e deve ser insistentemente recomendada por todos os médicos, particularmente pelos ginecologistas e obstetras. Uma maior facilidade de acesso com expansão da cobertura vacinal, em função de um menor número de doses e esquemas simplificados, poderá favorecer o controle das patologias relacionadas ao HPV e resultar num impacto real e definitivo, particularmente na mortalidade pelo câncer de colo uterino, importante agravo à saúde da mulher brasileira.”
Até o momento, está bem sedimentada a eficácia do esquema de duas doses da vacina HPV em adolescentes, para os diversos desfechos da infecção, porém, para o esquema com dose única, ainda faltam evidências mais consistentes, que poderão ser obtidas nos próximos anos com os resultados de estudos em andamento. No Brasil, atualmente, não há falta de disponibilidade de vacinas HPV.
A CNE em vacinas da Febrasgo sugere, neste momento, manter a recomendação do esquema de duas doses da vacina HPV (com intervalo de 6 a 12 meses entre as doses), aguardando-se mais evidências que sustentem uma mudança no calendário, e ao mesmo tempo intensificar as ações integradas de melhoria das coberturas vacinais de adolescentes no nosso país, especialmente com a vacinação em base escolar, aliada a uma campanha nacional de conscientização da população, para atingirmos as metas estabelecidas pela OMS.
Fonte: Febrasgo
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